sexta-feira, 2 de agosto de 2013

#20 Man Of Steel (O Homem de Aço)

Voando nas bilheterias: o Homem de Aço bateu recordes históricos no mês de Junho, quando estreou nos EUA.


Muito do que a DC Comics fez no passado por seus filmes, piorneira no trato a história com super herois no cinema, trazendo aqui Batman e Superman em tempos onde a fantasia dava seus primeiros passos na tela grande. Após resultados pifios e seguidos, parece que acionaram o botão vermelho e boa parte das produções da empresa de quadrinhos na gigante Warner, detentora dos direitos dos personagens para a sétima arte encontraram o lugar sombrio da gaveta. Creio que a baixa repercussão dos ultimos filmes com Christopher Reeve que parou no quarto e do Batman que amargou uma produção pifia foi o estopim para que não se falasse com tamanha urgencia numa reutilização do material vasto ali reservado, já que só foram usados dois herois.

Graças ao surgimento de uma poderosa Marvel nos cinemas em 2000 com X-Men (há quem prefira buscar o ponto de partida da empresa de Stan Lee nos cinemas a partir de Blade, mas não era um grande personagem ali representado), que sentiu-se o risco iminente da DC, tão pioneira sentir o baque de ser deixada para trás. E o que de fato ocorreu, e deixou paralisada a dobradinha Warner/DC. É só vermos o seu apice em Os Vingadores, enquanto a concorrencia só tinha Batman nos cinemas, graças ao empenho unico feito por Christopher Nolan, diretor de filmes de suspense alçado a primeira linha do cinema graças a Batman Begins, o ressurgimento do morcego após o fiasco de 1999.

Enfim, tentaram modernizar o homem de aço em 2006 com Superman Returns, só que o que o roteiro pregava era justamente trazer um heroi antiquado as telas. O novo Superman que estréia agora nesse ano, o sombrio O Homem de Aço parte de uma nova aproximação. Agora toda mitologia do heroi volta-se ao passado para trazer um personagem mais humano, mais sentimental e despreparado. O antigo era um personagem semelhante ao nostálgico interpretado por Reeve, um Deus e sem muito aprofundamento. Era aquilo que conhecemos. O novo quer mudar para não cair no metodico e consegue. É uma coisa menos frivola e obvia para nós cançados da repetição, repetição essa que acaba aqui tendo seu momento como na volta as origens tão conhecidas, só que até mesmo ai temos uma visão in loco de como Kripton foi destruida, o pai Jor-El (Russell Crowe) e sua mãe lutando pela vida de Kal-El bebê.

Snyder passando os procedimentos para o ator Henry Cavill

Um vilão maior que a vida: Shannon empresta uma caracterização impecável.

Até a metade do filme temos um filme barbaro, mas o diretor Zack Snyder, conhecido por suas outras adaptações DC, como a de 300 e Watchmen, traz uma segunda metade sem ritmo e descompassada. Não temos a ideia de como certas coisas acontecem. Amy Adams é uma Lois Lane apatica e pouco se tem aqui para um certo romance, como em Batman de Nolan, que por aqui assina a produção executiva apenas e o roteiro aqui e acolá, imagino eu na sombria primeira parte, da destruição e formação do heroi. Kevin Costner e Diane Lane estão incriveis nos papéis dos fazendeiros de Smallville que adotam o pequeno alienígena/humano. A trupe do jornal diario decepciona muito pelo roteiro que não ajuda do que pelos atores encabeçado pelo chefe, agora interpretado por Laurence Fishburne.

O ator que faz agora o heroi, o masculo Henry Cavill é um dos melhores atores na minha opinião que já usaram a roupa com S. Reeve foi um bom para sua época, mas Cavill me parece mais perfeito para a nossa, com um cabelo sem aquela mecha caida no rosto, sem a ingenuidade chata as vezes, de um mundo em que os EUA não representam o bem supremo, onde é bom as vezes ser um pouco mais real e conectado com a nossa realidade. O vilão barbaro interpretado por Michael Shannon, o imponente General Zod traz um alivio depois de tantas vezes termos visto apenas a presença do Lex Luthor sempre como um alter ego infinito e assim sendo metodico e chato, pela repetição excessiva. O rei do crime nas histórias do Homem Aranha não tem que ser um personagem eterno senhores roteiristas, assim como não tem de ser o careca Luthor.



O resultado traz pouco daquilo que parece ser, mas é um bom ponto de partida para as pretenções da pioneira DC de voltar a dominar o mundo dos quadrinhos no cinema. Já está em andamento as filmagens da continuação de Superman, agora com a adição do Batman no enredo parece ser a forma encontrada de superar uma tão dominante Marvel nos cinemas, enquanto prepara terreno para um sonho maior, fazer a contrapartida do sucesso de Os Vingadores, com a criação de um filme da Liga da Justiça. Até lá os dos dois lados vão se aperfeiçoar e trazer novas histórias. Minha disposição em conferi-los estão aqui, podem traze-los.

Soco na câmera: Um Cavill que se mostrou perfeito para usar o uniforme.

sábado, 2 de março de 2013

Madrugada dos cinéfilos. A tradução simultânea de uma premiação em gifs...

- Prêmios do Academia. Oscar 2013



We <3 Jennifer Lawrence.
Não vou ficar falando quem ganhou ou quem deixou de ganhar. Vou falar daquilo que chamou a atenção. O resto é dos outros. Se Argo levou melhor filme, se Daniel Day-Lewis entrou para a história apos ter vencido pela terceira vez, ou se Ang Lee tirou o Oscar de melhor diretor das mãos de Lincoln e Steven Spielberg, por seu trabalho em A Vida de Pi, não importa. Vamos aos fatos relevantes. Já basta a festa chatinha... que o diga o...

Quanta deselegância...
E pra quem acha a Qzaueuhuheushuhseu Wallis fofinha, ela estava uma gracinha. Disse que seus projetos para o futuro é virar... dentista. Muito criança ainda, ela tem 6 anos! Deixem ela em paz!


Ele riu. Tommy Lee Jones riu. Ele riu sim.


A noite foi de Adele que venceu melhor canção por Skyfall...


Mas bem o resto é o seguinte, Jennifer Lawrence foi o melhor desse Oscar. Engraçada, as melhores gags vieram dela. Do tombo ao subir para pegar o Oscar socorrida por Hugh Jackman e Bradley Cooper, a interrupção do seu maior admirador Jack Nicholson numa entrevista ao vivo. Além dela ser linda, gostosa e super talentosa. Segue os best moments...

Tombo.
O sonho de qualquer garota, não é meninas... hahaha
Ela pode. Não?!
Não tá fácil pra ninguém...

A garota do momento. J Law.


Jack Nicholson... o melhor. Como ser cara de pau?







Genial. haha.

Bom, fiz um resumo básico do que houve de mais interessante nesse Oscar.

That's all folks!

#19 crítica: Indomável Sonhadora - Beasts of the Southern Wild

A câmera tremula e um visual de entorpecer. Belo trabalho do diretor Benh Zeitlin.
Aquilo que temos que enfrentar na vida na figura dos bichos gigantes. Medo.

Algo acontece numa região ribeirinha do Louisiana que parece não demonstrar qualquer esperança na raça humana. No meio do ambiente extremamente pobre e desolador, uma garota de seis anos sobrevive em meio ao trágico lugar com algo grandioso em sua pequena alma brava e impetuosa. Sua força pode não resistir a dor da solidão e a falta de uma família que possa lhe dar suporte a suas descobertas. Um mundo hostil e pouco afável capaz de lhe fazer vencer batalhas das quais ela surpreendentemente se mostra preparada para lidar. Temos aqui um filme que foi filmado apenas com US$ 1,8 milhão, cujo roteiro incrível e a historia de bravura mereceram as principais indicações no Oscar deste ano. O show aqui desse longa é a garotinha Quvenzhané Wallis, com nome difícil de soletrar, que vem chamando atenção por onde passa. Sua convicção nas agruras de sua personagem Hushpuppy é de partir o coração. Ela se vê num lugar cujos efeitos climáticos na região chamada com uma certa carga de ironia aqui, de "banheira", devido a imundice que toma conta do local, causam devastações, inundações e todo tipo de destruição. Numa tempestade atípica  muitos moradores da região saíram do lugar, porém alguns resolveram manter-se de algum modo a mercê dos cataclismos, sem se importarem com suas dignidades tão devastadas na essência  quanto o lugar, em nome de uma necessidade de pertencimento aquele lugar, já que dali não teriam mais nada, por terem abraçado aquele fim do mundo como sua casa.

Com seu pai doente, sua mãe distante e com poucos a quem confiar, a garotinha Hushpuppy resolve agir por conta própria e passa a aprender a viver sozinha e autossuficiente  Seu pai que lhe chamava de patroa, já  conferia a ela uma personalidade adulta nos modos como a tratava e que dali em diante percebeu ter somente a si mesma e ao mundo a quem contar, partindo numa jornada que mistura fantasias, sonhos e esperança.

O filme é bárbaro  lindo e inspirador. As cenas da garotinha Quvenzhané Wallis são impressionantes. Sua prematura indicação ao Oscar, tendo apenas seis anos gera discussões e até acho inoportuna, pessoalmente, mas ela com certeza ganha nossos corações num papel de tamanha simplicidade e encanto. Sua bravura e dor são impressas em um rostinho doce e sofrido com aqueles cabelos todo bagunçados e suas botas brancas pequenas passando por todo tipo de lodo e imundice. Comovemo-nos, mas ao mesmo tempo somos colocados na realidade em que vive, sem muito julgamento ou questionamentos. Ali tudo é muito bem definido e admitido por seus habitantes que não sabem como reagir num outro ambiente limpo e bem conservado por regras e costumes. É o que Émile Durkheim já havia colocado séculos atras na sociologia, que o ser humano tende a ser conduzido em suas atitudes e vontades influenciado pela imposição da maioria, o que causava em grande parte dos casos o surgimento de pessoas que sofreriam de uma certa anomia, um distúrbio que a põe marginalizada e inferior na sociedade. Isso se traduz na condição aceira do pai da garotinha, dela e de todos os que ali estão. Eles aceitam aquela miséria e se revoltam contra qualquer condição de bem estar.

Hushpuppy olhando para o horizonte. A vida a passos largos.

O diretor estreante Benh Zeitlin que já virou promessa por saber expor bem a câmera e tem até certa característica própria expressa no seu modo de filmar perceptível nas cenas de distancia e profundidade, sempre conduzindo a cena tremula e inquieta, que aqui traz uma história de fé acima de tudo na vida daqueles que vivem à mercê da natureza prestes a derreter. Um filme com essa ambientação e tema atual que é o derretimento das geleiras e os eventos que o aquecimento global vem causando em diversos lugares, até mesmo recentemente em Nova York, graças ao furacão Sandy. O filme do diretor Zeitlin é memorável em diversos aspectos, mas pesa talvez no desconforto da câmera e da narrativa documental. É belo e com uma baita historia para contar. Os bichos gigantes e a lenda dão aquilo que vai pulsar o quão imenso é o coração da garota, que é uma joia. É o filme indie do Oscar, que tem em uma criança mais uma vez a voz de um mundo que não consegue se expressar o que sente, as angustias que sofremos e tentar entender a nossa própria natureza nesse mundo. Um filme espetacular, mas que no final dá a sensação de que vimos algo pequeno e sem muito peso até. Não se engane.



domingo, 24 de fevereiro de 2013

#18 crítica: A Hora Mais Escura

De olho na casa: Chastain brilha mais uma vez em Zero Dark Thirty
O SEAL em ação na captura do homem mais procurado do mundo.

A diretora Kathryn Bigelow, vencedora do Oscar de melhor diretor em 2010, por "Guerra ao Terror" resolveu ir adiante num projeto que por si só já envolve uma polêmica brava, que é a morte do terrorista Osama Bin Laden, em 2011 por uma equipe norte-americana do SEAL. A tal polêmica começa quando há suspeitas referentes a posse de informações sigilosas que a equipe de filmagens teve acesso na criação do roteiro. Além do filme ser acusado de ser conivente com o uso de tortura para interrogatórios  Se formos para o que ocorreu naquele dia tudo é muito envolto em mistério. Ao abrir a porta, Osama levou alguns tiros na cabeça e morreu na hora. De acordo com relatos, ele tentou reagir, mas foi morto instantaneamente. A tarefa da diretora ao lado do roteirista de "Guerra.." e jornalista, Mark Boal era trazer a vida um retrato fiel do que ocorreu naquele 1 de maio de 2011, quando ocorreu a operação em solo paquistanês. Na tela, podemos ver tudo o que poderia ser mostrado num filme de 2 horas e 40 minutos que corre sem deixar o espectador respirar, numa trama sem abrandar absolutamente nada e sem censura. Cenas de torturas, e diálogos afiados dos personagens. Em um roteiro magnifico que deve levar o Oscar.

Jessica Chastain é a engrenagem que põe o filme para se transformar numa obra tensa e grandiosa. Não vejo atriz nenhuma capaz de reproduzir os sentimentos e angustias que sua personagem é capaz de mostrar. Algo que vindo de uma personagem que abrevia tanto as condições para a atriz se expressar e transmitir suas reações diante de suas emoções e raiva, cabendo a ela somente as expressões que percorrem o seu rosto para dizer algo de si. Um papel duríssimo  e que comprova o grande talento dessa atriz. Ela interpreta Maya, uma agente da CIA que cuida da investigação sobre a Al Qaeda e captura dos principais lideres, tendo no cume a captura de Osama Bin Laden, ao lado de seus companheiros da agencia, composto por atores magníficos em seus papéis: Jennifer Ehle, Jason Clarke e Joel Edgerton. Sua busca por respostas sobre aonde se encontra Bin Laden vão da sua conivência com a tortura a momentos em que ela se apequena diante das fragilidades das situações. O desespero e a tensão que a cena em que seu carro é alvejado dá o tom do que se trata "entrar na lista", como se referem aqueles que estão sendo observados. Sua colega interpretada por Jennifer Ehle (excelente atuação), é o exemplo dos perigos que um funcionário da agencia estão propensos a sofrer em nome das investigações em curso. Maya caminha até o mais profundo que pode chegar e alcança a serena paz escura trazida pela vingança, que a motivou mais do que o papel humanista da prevenção de novos atentados, não que isso por si só já não implica, porém me refiro a sua principal motivação.

Em uma das cenas mais extraordinárias do filme, o carro com um sinal do mensageiro de Bin Laden captado por um celular apreendido, vai surgindo aos poucos conforme o carro do pessoal da CIA vai se aproximando em meio ao transito caótico de Islamabad. O tipo de tensão que a diretora Bigelow pinça com excelência. Essa cena é de arrepiar.

Kyle Chandler muito bem no filme ao lado do ator Jason Clarke:
Mark Strong cansado dos avisos de Chastain. Os vidros de sua sala que o digam.

Somos apresentados a uma trama que não deixa de surpreender mesmo ao já estarmos ciente do seu desfecho.O clima do filme, que logo no inicio já nos prepara para o sentimento de justiça pela morte do terrorista com as vozes de vitimas do 11/9, e se torna mais pesado até chegar ao seu fim. Pouco a pouco, a personagem de Chastain cresce na trama até o instante em que um avião inteiro do exército a espera nos últimos momentos naquela base americana palco de toda a história e o soldado constata que ela deve ser muito importante para ser a única passageira a ser conduzida pela aeronave. O seu rosto diz muito ali. Algo que se traduz no cansaço da corrida contra Bin Laden e um imenso desgaste.

Sobre as acusações de ser conivente com a tortura uma cena peculiar traz Maya e outros numa mesa vendo numa TV, o atual presidente Barack Obama dizer que não seria tolerada a tortura no seu governo. E o que vemos nos jornais hoje é o uso de drones na guerra ao terror. Irônico ele condenar o uso de tortura em seu governo, mas abraçar um dos instrumentos mais letais na guerra contra o terror, hoje muito mais usada em missões do que nos tempos de George W. Bush e ainda por cima continuar a manter aberta a prisão de Guantánamo  Ou seja, ironias.

A diretora Kathryn Bigelow e o roteirista Mark Boal: alvo no inimigo.

O filme é incrível e possui um roteiro genial, que aqui traz a tona diversas questões da politica internacional do país e o sentimento que circunda o espirito da população em busca de justiça pelo desfecho. A morte do terrorista enfraqueceu a Al Qaeda, que tem nos dias de hoje suas ações mais concentradas na Africa e nos levantes sunitas do Oriente Médio. Naquele 1 de maio, mais precisamente a 0:30 de 2 de maio de 2011, a população hasteou suas bandeiras americanas. Bin Laden foi executado  O percurso que o levou a ser morto gera questionamentos e legitimidade, que vão de encontro com a importancia de se ter feito tudo isso.  Aqui nos trazendo uma obra de ficção baseada na realidade, Bigelow merece os aplausos pela obra prima moderna num mundo sem romantismos. Um longa intenso e memorável, mas bastante problemático.



#17 crítica: Os Miseráveis

Hugh Jackman paga seus pecados no lugar de Jean Valjean
Tom Hooper e Jackman: Olha, o que é isso na sua camisa? Brincadeira velha.

Tom Hooper é um diretor que sabe manipular uma câmera como ninguém. Sua forma de nos ater ao modo como as coisas e cenários se dará frente a uma tela é de encher os lhos de admiração. Não vamos nos esquecer dos seus padrões de filmagens em que ele se utiliza de um tom contido e hipnotizante, com close sobre o rosto. O diretor que já faturou o Oscar de melhor diretor em 2011 por O Discurso do Rei, e já filmou dezenas de minisséries e longas em torno de sua carreira vem agora com a adaptação de um dos maiores musicais da história, baseado na obra escrita por Victor Hugo. "Os Miseráveis" surge nas telonas apoteótico e impressionante. A obra ganha um tratamento digno do seu meio de origem que são os palcos. Produção do Reino Unido, o filme consegue atingir as massas que não se interessam por musicais, já que o gênero possui uma estrutura narrativa que cansa aqueles que não estão acostumados com aquela conversa, diálogos e que de repente ganha contornos musicais. Nada contra os belos filmes musicais que já renderam diversas estatuetas do Oscar. Porém aqui em Os Miseráveis  de Tom Hooper algo transcende e se rebela contra os padrões excessivos dos musicais. Ganhando dimensões magnificas e uma historia que encanta com sua graça e beleza.

Contribui as lindas canções que o musical possui, mas o poder delas estão de posse dos atores que dão a elas um lirismo e um sentimento engrandecedor. Hugh Jackman faz um excelente Jean Valjean, prisioneiro que escapa da condenação ao qual foi imposto por roubar um pedaço de pão e segue seu rumo em busca de se tornar  um homem bom, prospero e responsável  Sua historia vem sendo cruzada com a do inspetor Javert (Russell Crowe) que não tolera desvios não cumprimento da lei e fará de tudo para prende-lo novamente. A trama se desenrola com o surgimento de Fantine (Anne Hathaway) que sofre com a distancia que mantem de sua filha Cossete (Isabelle Allen) para lhe fornecer dinheiro ao seu sustento. Como todos já sabem, Cossete cresce, aqui se torna Amanda Seyfrield, se apaixona por Marius (Eddie Redmayne), embalados em meio a revolução francesa. O amor conseguiu curar as feridas das misérias e por meio da paixão unir um França que aspirava liberdade.

Todas as falas são cantadas e os atores não seguem muito uma linha de logica nos desenvolvimentos das cenas. O melhor aqui talvez seja o visual, que assim como em O Discurso do Rei, ganha planos aéreos e tomadas um pouco acima do rosto, como já citado aqui. Um figurino e maquiagem de encher os olhos. Tudo feito com muitos detalhes. Os atores cantam bem e a história apesar de longa, dura o bastante para um épico que possui ingredientes para cativar os mais chatos. Jackman sem duvidas é o melhor, mas Anne Hathaway arrebata em iguais medidas. Ao cantar a todo o pulmão "Dreamed a Dream", que ela crava com uma dor que te atordoa de tão impactante. Há ainda no elenco os atores Sacha Baron Cohen e Helena Bohan Carter, que fazem os tutores de Cossete enquanto criança. Outro encanto nesse filme é a atriz Samantha Barks, que arrasa em diversos momentos do filme. O longa é um deleite e é o meu favorito a premiação para melhor filme nesse Oscar que ocorre em 24 desse mês. Um filme arrebatador, sem duvidas.

A dor de Hathaway enche os olhos.
Hathaway e Jackman por trás da miséria toda.
O Javert de Russell Crowe num dos melhores momentos do filme. 

Ouso afirmar que as agruras de Jean Valjean nunca foram tão bem contadas em quaisquer meios artísticos baseados na obra de Victor Hugo. Nem mesmo no cinema anteriormente. Casou muito bem a ideia de fazer um filme baseado no musical, aliada com uma trama que por si só possui dimensões épicas, um simples filme com diálogos e gênero tradicional não conseguiu unir a grandeza imensa da obra escrita por Hugo e a transmissão da mensagem do livro. Não há adendos e pontos negativos aqui. Les Miserábles é um estrondo. Da canção mais linda do filme, interpretada por Jackman "Suddenly", ao final magnifico, ele deixa nos nossos corações o mais intenso sentimento de graça e deslumbre. Fantástico.

Belo poster. Gostei.
E a trilha que dispensa comentários...


sábado, 23 de fevereiro de 2013

#16 crítica: O Lado Bom da Vida

A paixão pelos Eagles une Pat (Bradley Cooper) e Pat Sr. (Robert De Niro) ao seu modo.
Atuação magistral de Lawrence. Não nada igual. 

Sabe aqueles filmes que te faz embarcar na história e quando você vê os letreiros subindo vem aquela sensação de prazer em ter passado boas horas numa sala de cinema. Assim é uma das possíveis maneiras de explicar como se sentir depois de ver O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook). A história de romance que há aqui pra mim tem muito de pretexto para falar da vida, dos momentos em que decidimos fazer coisas e nos surpreendemos com elas. Uma válvula de escape para todas as frustrações pode ser dar lugar para experiencias que nos transforma. O que é mais legal no filme de um dos meus diretores favoritos, David O. Russell é a forma encantadora de se revelar boas interpretações. Ele dá total liberdade criativa aos seus atores e o resultado é coesão em tudo. No seu ultimo filme, The Fighter, temos o que há de melhor nos atores Christian Bale, Amy Adans, Mark Wahlberg e Melissa Leo. Aqui algo se supera na opinião desse observador de filmes malcriado, que não liga para quem fala que esse filme é de mulherzinha e acha esse aqui o melhor filme do ano, até um outro aparecer para eu soltar esse elogio mais uma vez. Impossível não se sentir admirado e perplexo com tamanhas interpretações. Bradley Cooper, um ator que vem crescendo mais e mais. De um ator mediano, ele é a minha, a do Peter Travers, critico da Rolling Stone, e de todos os pensadores da sétima arte a aposta de ator para o futuro  Teve aqui sua primeira indicação ao Oscar de muitas que virão, sem duvida. Seu personagem Pat sofre de problemas psicológicos revelados após ter espancado o home com que sua mulher estava o traindo, em sua própria casa. Após ficar por durante oito meses numa clinica psicológica  sua mãe, numa atuação de arrepiar da veterana atriz Jackie Weaver, o resgata de lá e o traz de volta para junto da família  Seu pai, interpretado por Robert De Niro (outro ator que surge de um tempo sem brilho algum e agora vale de uma indicação de melhor ator coadjuvante por esse filme), se espanta num primeiro momento ao ver o filho regresso e passa a não descansar enquanto Pat não permanece ao seu lado nos jogos do time de futebol americano Philadelphia Eagles. Na sua mania que beira ao TOC, ele acredita que a presença do filho em sua casa tem uma razão, que é a de dar sorte a seu time. Outros atores que achei muito bom é o irmão de Pat (Shea Whigham), que protagoniza uma cena que gosto muito quando ambos vão ver no estádio um jogo decisivo contra o time de Nova York e todos acabam numa briga com outros torcedores, para o desespero do patriarca e outro retorno em grande estilo, o do ator Chris Tucker no papel de um internado do hospital psiquiátrico com quem Pat cria amizade.

Weaver e De Niro. Excelentes atuações.

Pat volta ao lar com a intenção de reatar com sua ex, que exigiu que a lei o mantivesse a uns metros de distancia dela. Voltou a correr para controlar o estresse com tudo, que só vem a crescer a medida que evita a tomar os medicamentos prescritos, e voltou também a se socializar com os amigos e com pessoas próximas.  Numa certa noite num jantar na casa de seu amigo, Pat revê a irmã da mulher de seu amigo, Tiffany (Jennifer Lawrence), cujo marido morreu recentemente e dali ambos passam a ter encontros cada vez mais fora do comum a todo momento, em especial nas corridas matinais de Pat. Ele não quer ficar mal visto ao seu lado, dado aos comentários maldosos feitos sobre ela, e ela não quer se sentir sozinha. Todo esse complicado relacionamento vai acabar numa competição de dança  em que é apostado todo o dinheiro do Pat pai. Até chegar esse momento muitas águas devem rolar e sentimentos desconhecidos e novos vão surgir entre eles e somente no momento certo será revelado.

David O. Russell e seus pupilos.
O bom filho a casa retorna: Pat volta do hospital psiquiátrico.

Lawrence é uma das melhores (porque são muitas) coisas do filme. Radiante, controladora, anti social. Um furacão. Uma das mais brilhantes atuações de sua carreira e das que já vi ultimamente. Sua Tiffany sofre e nunca admite seus problemas, pelo contrario preferindo se embebedar ou transar com todos ao seu redor para evitar sofrer com o que se tornou sua vida. Vazia e sem rumo. Vê em Pat alguém tão louco quanto ela, e com problemas tão difíceis de se resolver quantos os dela, mas há algo ali que ela aposta suas fichas para ver se no fim do arco iris ela terá o que espera.

Não é um simples filme de comédia romântica, porque ele se propõe a algo a mais. Eleva o padrão de filmes do gênero. Quer falar de nossas fragilidades e de nossos medos na vida e de como encarar as coisas de maneira positiva pode remediar, mas somente as experiencias reais darão conta disso. As fraquezas que todos nós temos e muitas vezes ficam expostas em atitudes cotidianas, como a do pai de Pat com seus transtornos e sua raiva, em diversos momentos. Assim como todos os que vivem em seus casamentos e familias para criar. Haverá sempre algo de bom que nos levará no meio das durezas da vida, seja esses momentos duradouros ou passageiros. O que vale é seguir acreditando nessas regras e se aproveitar sempre da chance de realizar.

Um dos melhores filmes que um ingresso poderá pagar, com um roteiro brilhante, uma direção muito competente e uma trilha sonora ótima. Isso não é tudo, mas o que há de mais sensacional nesse filme de David O. Russell talvez seja a simplicidade das coisas na vida. Do jogo ao amor, ambos pedem por um pouco de honestidade e sorte na hora de conseguir vencer em ambos. Numa das mais deliciosas experiencias narrativas do cinema dos dias de hoje e de um encanto, de um clima e de uma proximidade com a plateia e vida real, O Lado Bom da Vida parece que só quer te dar um final feliz, quando ele te reserva muito mais do que você esperava conseguir numa simples ida ao cinema.

Uma nota 5 já está de bom tamanho: casal com boa química.

A trilha sonora que mistura excelente hits e é uma das melhores trilhas do ano.




Se ela tá falando...



#15 crítica: Lincoln

Spielberg aqui faz um dos melhores trabalhos de sua carreira.

Em meio a diversos momentos desse novo filme de Steven Spielberg, a recriação de Lincoln, presidente mais importante da história dos Estados Unidos, é possível definir num âmbito abrangente toda a história da nação que sempre esteve a frente de seu tempo. O país que é conhecido por sua linhagem bem definida de advogados e legisladores, visto dessa forma principalmente por ingleses na época, dava suas primeiras diretrizes em busca de exercer o poder da democracia e da representação. O que conhecemos são duas frentes de batalha. A por meio das leis, como já foi dita e a por meio das armas, como atesta a tão sofrida e longa Guerra da Secessão, o conflito que dividiu dois lados, o sul e o norte por meio das diferenças que se davam, entre outras questões da ideia da abolição da escravatura. O que a batalha deixou foram ideais e um certo espirito ao combate que se vê muito no que se tornou a politica internacional do país e sua visão de mundo nos dias atuais.

Spielberg volta ao que já foi tema de diversos filmes seus como A Cor Purpura e Amistad, dois que me vem a cabeça agora. Judeu criado em Nova York, um dos diretores mais importantes dessa geração sabe bem o que foi o holocausto, tendo vivenciado a experiencia passada por seus antepassados. A dura lembrança daquele passado em que esteve inserido se viu presente no seu mais celebre filme, A Lista de Schindler e em outros longas com teores históricos de dimensões tão graves quanto esta. A cometida contra os negros é um dos maiores exemplos. Aqui em Lincoln já estamos muito a frente daquilo que por exemplo serviu de trama para Amistad. Já estamos nos últimos momentos da escravidão na America  que como vamos ver foi a base de um extremo desgaste. Logo no inicio já temos ele no começo do seu segundo mandato como presidente numa disputa que muitos não acreditavam que ele venceria. Não só venceu como se tornou adorado pelas pessoas. Em suas costas, uma guerra civil que derramava sangue a cada dia, que porém já estava nas vias de fato para ser costurado um acordo para trazer a paz duradoura tão desejada. Lincoln não aceitava apenas o fim do conflito. Para ele estava intimamente ligada a aprovação da 13ª emenda constitucional que exigia o fim da escravidão e os direitos civis aos negros. Em tese, para que não houvesse lados enciumados e nervosos deveria seguir por um dos dois caminhos. Ou a abolição, ou o fim da guerra. No fim quem venceu foi o espirito de liberdade tão aclamado por seus antepassados bastiões da independência.

Sally Field de volta ao cinema em Lincoln.
Pulso firma para aprovar a 13ª emenda da constituição.


Os fins justificam os meios. 

Para conseguir aprova-la teve de se submeter as trocas de interesses, subornos e corrupção. Tudo em nome de um bem maior. Toda a reconstituição da historia no longa foi contestada por muitos historiadores, mas em sua essencia segue intocavel com o roteiro esplendido e a brilhante composição do elenco. Boa parte dos nomes que estiveram nas diversas "batalhas" na vida real, foram elogiados por muitos pela forma como representaram. O mais impressionante sem duvida alguma é a do ator Daniel Day Lewis que arrebata nossas visões sobre o mito americano com trejeitos e movimentos que beiram ao espanto. Tommy Lee Jones e Sally Field, também extraordinarios. A sensação que o filme nos deixa é de deslumbre por um homem que definiu a América e o seu sonho de justiça e igualdade, de uma forma que poucos livros de história souberam transmitir com tamanha grandeza. A cena inicial em que Lincoln sentado numa mesa ouve apelos de soldados do norte em meio a guerra e um deles, um negro expoe as aflições com que vem passando e a esperança de que um dia um negro viesse a ocupar um cargo de general, sargento e quem sabe de presidente um dia. O que seria abominavel por muitos naquela época, vemos hoje um presidente que quebrou as barreiras daqueles tempos, ocupando a mesma Casa Branca e o que se vê aqui é essa ironia que o diretor traz a tona com seu filme, mergulhado num roteiro que não torna isso uma mensagem de muito altruismo melodico, baseado no livro "Team os Rivals: The Genius of Abraham Lincoln", de Doris Kearns Goodwin. Um filme sem sombra de duvidas nato dessa era Obama.

O diretor de Cavalo de Guerra e O Resgate do Soldado Ryan, parece que resolveu não pegar pesado com o sentimentalismo e todos aqueles momentos apoteoticos que geralmente tomam conta de seus filmes. Resultado da parceria com Tony Kushner, que assina o roteiro e com quem já trabalhou uma outra vez, em Munique (2006). Aqui repete-se um pouco daquele tom gelado e realista acerca dos eventos. Um tom mais intimo e reservado, como nas cenas em que Lincoln é visto pela camera deitado num tapete ao lado de seu filho mais novo. Caminhando até os momentos em que é posto em duvida sua liderança, e em todos os outros aqui vemos mais a constatação do que é real, sem muito brilho ou exclamações. Para quem espera algo que o faça sair da sala atordoado de emoção, pode achar o filme opaco e muito parado, já que o filme reserva mais momentos nas tribunas e negociações do que de fato em demais situações, como a guerra que nem é aprofundada nas suas trincheiras e canhões.

O filme lidera indicações ao Oscar e deve levar diretor e ator, mas veremos. Gosto disso, dessa maneira mais contida e observadora de Spielberg, porém aqui creio que tenha sido logo de cara mais coerente e respeitoso com a vida de Abraham Lincoln, um homem a frente do seu tempo responsavel por transformar uma nação que pensa o futuro.

Numa cena do filme, ele pergunta para dois rapazes que estão no aguardo a espera de um telegrama, sobre terem nascido naquele tempo. Um dos rapazes diz que o presidente certamente não pertencia áquele tempo, e sim um visionario, com visões bem mais a frente. Um filme esplendido e com dialogos primorosos. Palmas.

Dois Daniel Day-Lewis.

Ah, disponho aqui o virtual vencedor do Oscar de melhor trilha sonora. John Williams fez aqui uma de suas melhores composições. A trilha de Lincoln enche os olhos de tamanho esmero. Vale a pena ouvir.